sexta-feira, outubro 30, 2020

Rindo por aí


Mariano aprendeu cedo a falar corretamente. Como ele fala 24 horas por dia, o domínio da língua foi algo que  conquistou com facilidade. Bastava uma ou duas correções, e a palavra nova era incorporada ao vocabulário. 

Mas havia uma coisa que ele falava, eu não conseguia corrigir. O verbo rir para ele era "risar". Ele o conjugava em todas as pessoas e tempos. "Mãe, você está risando de mim!", reclamava. "Eu fiz uma gracinha e eles ficaram risando", contava sobre a escola. 

Eu achava muito fofo. Mais do que isso, eu não queria corrigir porque era uma das poucas coisas que ainda o ligava a fase bebê, de início da fala. De resto, ele é desenvolto e bem resolvido. E eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele aprenderia o verbo certo por conta própria e o risar nunca mais apareceria. 

Quis adiar o quanto pude esse momento. Não temos mais crianças em casa, agora só os netos, se vierem. E o risar era meu apego a esse gostinho de infância. Mas acabou. Hoje ele só ri. E a cada vez que ele amplia o vocabulário - a palavra da semana é "especificamente" - eu sinto saudade do risar. Saudade de ser mãe de bebê. 

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quarta-feira, outubro 28, 2020

Sinceridade total


Mariano e a avó estavam esperando no carro enquanto eu ia à farmácia. Ele percebe então que ela não tinha tirado a máscara - item obrigatório em tempos de pandemia, mas que costumamos dispensar dentro do carro. E pergunta porque ela não havia tirado a dela.

A avó então explica então que ia continuar de máscara para que, se alguém passasse, não visse que eram apenas uma velhinha e uma criança no carro.

- Ihh, vó, não vai adiantar, não. A máscara não esconde esse tanto de ruga nos seus olhos!



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terça-feira, outubro 27, 2020

Livre associação de ideias



O bom de acompanhar o crescimento de mais de uma criança é perceber quão diferentes são os caminhos de raciocínio de cada uma. Hoje tivemos mais um desses exemplos.

Miguel sempre aprendeu palavras novas por associação de ideias. Então, quando confundia alguma palavra era sempre por outra de significado semelhante. Uma vez nos disse que queria comer "macarrão de consertar". Queria macarrão parafuso. Numa outra, quando falávamos do Distrito Federal, ele saiu com "cidades antenas" para citar as cidades satélites.

Mariano, por sua vez, faz a associação com palavras de sons semelhantes. Ele pediu outro dia para irmos num "rodeio de pizza". Era rodízio, claro. E sua pizza preferida é a de "marshmallow". Era para ser mussarela. 

Hoje, ele conversava com o pai quando disse que tinha "arrancado uma semana de férias". O pai ficou sem entender nada.

 - Não seria "arranjado", Mari?

- Sim, eu arranjei uma semana de férias.

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Um é 8, outro é 80

 


Cá estamos de volta. 

Dez anos e um irmão depois. E eles não poderiam ser mais diferentes. O que têm de parecidos fisicamente, têm de distintos em personalidade. Nem precisa explicar muito. Tenho uma frase que define bem o clima aqui em casa: "Bora Miguel, calma Mariano".

Que essa diferença entre eles ajude os dois a encontrarem equílibrio na vida. Que Miguel dê a Mariano a paz que ele precisa para enxergar as coisas do jeito que são. Que Mariano dê a Miguel a energia para realizar tudo o que for preciso. 

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