sexta-feira, outubro 30, 2020

Rindo por aí


Mariano aprendeu cedo a falar corretamente. Como ele fala 24 horas por dia, o domínio da língua foi algo que  conquistou com facilidade. Bastava uma ou duas correções, e a palavra nova era incorporada ao vocabulário. 

Mas havia uma coisa que ele falava, eu não conseguia corrigir. O verbo rir para ele era "risar". Ele o conjugava em todas as pessoas e tempos. "Mãe, você está risando de mim!", reclamava. "Eu fiz uma gracinha e eles ficaram risando", contava sobre a escola. 

Eu achava muito fofo. Mais do que isso, eu não queria corrigir porque era uma das poucas coisas que ainda o ligava a fase bebê, de início da fala. De resto, ele é desenvolto e bem resolvido. E eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele aprenderia o verbo certo por conta própria e o risar nunca mais apareceria. 

Quis adiar o quanto pude esse momento. Não temos mais crianças em casa, agora só os netos, se vierem. E o risar era meu apego a esse gostinho de infância. Mas acabou. Hoje ele só ri. E a cada vez que ele amplia o vocabulário - a palavra da semana é "especificamente" - eu sinto saudade do risar. Saudade de ser mãe de bebê. 

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