O tempo não para

Miguel quer fazer uma tatuagem. Há algum tempo ele fala disso. Já escolheu o desenho, o local. Está decidido. Mas eu avisei que só quando completasse 18 anos. 

Esses dias ele veio me perguntar se, caso ele pagasse a tatuagem com seu próprio dinheiro, eu deixaria que ele fizesse com 16 anos. 

Pensei um pouco e concordei. Sei como é esse desejo da tatuagem. E sei que quando ela está pensada e repensada, difícil mudar de ideia ou se arrepender. Falei apenas que ele precisava confirmar a permissão com o pai.

O rapazinho saiu na maior felicidade. Estranhei. E entendi que tinha caído numa pegadinha.

O aniversário de 16 anos é daqui a três meses...

Prioridades claras

 

Estou na cozinha arrumando a pia quando Mariano entra. 

- Mãe, lava esses tomates para mim?

Respondo, enrolada na tarefa:

- Lavo, sim, mas antes vou terminar de arrumar a pia.

No que ele responde, de pronto:

- Mãe, o que é mais importante: as coisas da casa ou a vida do seu filho?

Sem dúvida, a vida do meu filho. E lá fui eu lavar tomates.

Baianidade natural

 

Mariano na praia pergunta à tia:

- Voinha está vindo?

- Voinha?!

- Sim. Se minha mãe chama ela de "mainha", eu posso chamá-la de "voinha".

Pode mesmo.

Alta performance

Ele poderia ser ator. De teatro. Grego.

Mariano é assim. Nada com ele é simples ou direto. Se vai pedir um beijo, não escutamos um mero "me dá um beijo?". O pedido vem mais ou menos assim:

- Não vai ter nenhum beijo no filho hoje? É sério isso? Nem mesmo um beijinho? Que mãe é essa, meu Deus?

Se o pedido é por água, a gente escuta algo assim:

- Nossa, como está calor aqui. Eu preciso muito de uma águinha geladinha. Quem será que pode me dar?

Isso vale para tudo. Se está cansado vem um "tô quebrado, exausto, acabado, não aguento mais nada".Se está com fome é algo como "estou morrendo de fome, meu estômago não para de doer, acho que não aguento mais"...

A argumentação parece novela mexicana do SBT. Que medo desse menino apaixonado um dia... 

Amor e Corinthians

Estamos no jantar de Ação de Graças que resolvi fazer em casa (se copiamos tanta coisa dos americanos, porque não copiar um feriado tão legal, né?). Começamos a fazer os agradecimentos. Mariano nos sai com uma lista enorme:

- Obrigado Deus por ter inventado o hamburguer e o video game. Por eu ter uma casa, comida, escola e uma família. Obrigado pela Titi (nossa cachorra).

Os agradecimentos continuam na mesa e chegam no Miguel. Com um meio sorriso no rosto, ele manda:

- Obrigado Mancini pelo Corinthians ter conseguido vencer ontem...

Dr. Google e a nova geração

Mariano acordou com uma irritação no olho. Vermelho, um pouco inchado e coçando bantante. Lavamos com soro, fizemos compressa. Na escola, mais lavagens com soro e compressas. Antes de dormir, com o olho coçando muito e já irritado, ele me pede:

- Mãe, como faz para parar essa coceira?

- Não sei, amor, estamos tentando.

- Então você pode tirar uma foto do meu olho, colocar no Google e pesquisar como faz para isso passar?!

(PS: eu já tinha feito isso, claro. Era conjuntivite alérgica e uma ida ao médico n dia seguinte confirmou o diagnóstico do Google).

Mistérios pessoais

 

A conversa na mesa era sobre doces. Miguel pergunta ao Mariano:

- Mari, você gosta de leite condensado?

Ele, enfático como sempre, responde que não. Miguel argumenta:

- Ué, mas como você não gosta de leite condensado se você gosta de brigadeiro?

A resposta vem carregada de um tom filosófico:

- É que existem mais mistérios dentro de mim do que eu consigo explicar...

Um mar de amor

Mãe, quando você morrer, eu vou chorar muito. 

Tanto que esse país vai virar um mar. 

(Mariano, transformando a mãe em um mar de lágrimas).